quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Caiu do Céu



Existem redes de lojas que atualmente comercializam livros em pequenos espaços. Normalmente a pratilheira de livros está escondida atrás da sessão de tintura para cabelos e ao lado dos DVD's com filmes de qualidade duvidosa em promoção. Em um final de semana ao passar por uma dessas lojas acabei surpreendido pela presença de livros naquele espaço (o Pós-Modernismo às vezes vale a pena? .............Não, acho que não!).
Ao inclinar minha cabeça para averiguar o acervo encontrei uma quantidade superlativa e aterrorizante de livros de Auto-Ajuda; ao lado, uma coleção recém-lançada de diversos títulos do exímio e incansável Paulo Coelho (como se as prateleiras dos sebos repletas dele não fossem amostras da saturação); abaixo diversos Harry's Potter's com a Pedra Filosofal na Câmara do Prisioneiro com um Cálice da Fênix e o Príncipe Bastardo (não, ainda não havíamos sido contemplados com a Saga Crepúsculo/qualquer evento astronômico espacial, da autora Stephenie “Anne Rice não era tão ruim” Meyer).
Entretanto ainda mais abaixo haviam livros em uma promoção, algo em torno de 9 reais, e qual foi minha surpresa ao encontrar um título como CAIU DO CÉU (Millions).
Até aquele momento tudo o que sabia sobre a obra era qu havia um filme realizado pelo diretor Danny Boyle e nada mais (estamos em Agosto de 2007 pós EXTERMÍNIO, ano de SUNSHINE, antes de Quem Quer Ser um Milionário?) .
Como eu iria passar o final de semana na casa de minha avó, e não havia nada para fazer eu o comprei. No dia seguinte estava na locadora alugando o filme.
É engraçado como acabamos muitas vezes presenciando discussões a cerca das adaptações de distintas obras para meios diversos. Há os que dizem que um filme nunca se equipara ao livro em que a obra foi inspirada, outros simplesmente não possuem paciência para ler o livro optando pelo filme. É inegável também que, atualmente, boa parte dos livros parecem mais com roteiros pré-aprovados antes de uma edição por parte de produtores, ou até mesmo storyboards do que será traduzido em imagem e sons para o cinema tamanho o didatismo da escrita. Também é comum o caminho inverso, filmes que tem seus roteiros “romanceados” para a publicação de livros.
Bem, voltando a Cai do Céu. Trata-se de uma leitra simplesmente deliciosa, dessas que você começa a ler e acaba soltando uma risada leve no silêncio do quarto. Narrado por Damian, o caçula de dois irmãos, a história tem inicio com a mudança do lar e a reestruturação conturbada que a família atravessa em razão do falecimento da mãe. Cuidados apenas pelo pai que se esforça, mas não parece estar confortável em criar dois filhos sozinho, os garotos são extremos opostos. Enquanto Damian age como uma verdadeira enciclopédia canônica e divaga com Santos seu irmão Anthony é materialista ao extremo, ponderando todas as situações através de custos, retorno ou investimento.
Damian então encontra uma mala cheia de dinheiro... a mala tem milhões... mas os dias estão contados pois a libra está prestes a ser substituída pelo euro. Como gastar o dinheiro então?



O livro é bom, como já disse uma leitura rápida. Entretanto o filme conta com a atuação do ator mirim Alexander Nathan Etel exalando ingenuidade sem soar chato ou irritante como muitos outros atores jovens. E Danny Boyle é um diretor talentoso, o responsável por filmes como Trainspotting e Cova Rasa havia errado a mão em A Praia, volta para a Inglaterra, ressuscitou o gênero de zumbis com Extermínio, e como todos sabem, realizou Quem quer ser um milionário?. Diretor extremamente inventivo mostra mão certa para pequenos grandes momentos (como a corrida dos irmãos logo no inicio do filme pelo terreno baldio) e sacadas visuais criativas (como a tensa cena no sótão onde o celular de Damian inesperadamente toca e vemos a luz do aparelho através de sua camiseta). Ele ainda retira algumas passagens do livro (que realmente emperravam a leitura) e entrega uma obra singela, ágil e encantadora. A fotografia do filme é um acerto também, assim como na obra literária, onde somos mergulhados na psique infantil pela narração em primeira pessoa de Damian, no filme percebe-se a constante permanência do olhar e altura junto das crianças o que nos leva a “ver” apenas o que eles vêm.
O autor da obra e roteirista do filme FRANK COTTRELL BOYCE é o roteirista responsável também por filmes como BEM-VINDO A SARAVEJO e HILARY E JACKIE. Nesse caso a similaridade entre roteiro e romance esta explicada.

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